NOTAS E MOEDAS
DO ZIMBO AO KWANZASegundo
registos históricos, muito antes da época colonial utilizava-se em
Angola colares formados por rodelas de conchas de caracóis e outras
conchas, furadas no centro e enfiadas em fios de fibras têxteis, como
instrumento de troca.
Todavia, apesar da variedade de conchas, foi o
Zimbo, pequeno búzio cinzento, um dos mais importantes e dos primeiros
instrumentos de troca constituindo funcionalmente autêntica moeda local.
O Zimbo – njimbu ou lumache - , búzio do tamanho de um bago de café, teve curso como “ moeda” em quase toda a costa ocidental africana.
Apareciam
em toda a costa de Angola, embora os mais belos fossem da ilha de
Luanda. Dentre os mais valiosos era de cor cinzenta.
Pescavam-nos
as mulheres, na contracosta da ilha, por alturas da praia-mar, sendo
até frequente algumas serem atacadas por tubarões e tintureiras.
Avançavam pela água alguns metros e, mergulhando, enchiam de areia uns
cestos estreitos e compridos, a que chamavam “cofos”. Em seguida
retiravam os “zimbos” da areia recolhida, que depois separavam, segundo o
critério de classificação em “ puro”, “ cascalho”, e “meão”.
Com
o passar do tempo o Zimbo começou a ser desvalorizado, e, assim, um
“cofo”, que no tempo de Mbemba a Nzinga, valia trinta e três cruzados,
desce para dez mil réis em 1615. Porém, já em 1616 não valia mais do que
três mil réis.
A queda do valor do Zimbo deu lugar à
predominância dos “panos” como moeda mais generalizada. Por outro lado, o
sal, o cobre, os panos, os escravos, o marfim eram também outros
instrumentos de troca utilizados na altura.
O SALProvinha de
duas fontes distintas: as minas e as salinas. Em Angola, as minas mais
importantes foram as de Ndemba, na Quiçama, onde os povos extraíam as
pedras, a escopro, e moldavam-nas em barras de dois ou três palmos de
comprimento e uma mão travessa de largura.
Foram também importantes as salinas de Benguela. O sal de Benguela vendia-se em Luanda à razão de mil réis de panos o alqueire.
O COBREUm dos
metais que mais larga aplicação teve como meio de troca foi o cobre, e o
conhecimento da sua existência em Angola vem de tempos muito remotos.
Os Luchazes eram hábeis na confecção das manilhas, utilizando o cobre
que os Lobares lhes levavam da Lunda para permutar a cera.
Os
registos históricos da época permitem concluir que os povos de Angola
sabiam extrair e trabalhar o cobre, fazendo pequenos objectos, quase
todos para enfeites, como as manilhas, colares e outros ornatos.
Fabricavam também peças e acessórios para as suas armas e até um fio de
cobre muito semelhante ao actual.
Todos estes objectos serviram
de instrumento de troca, mas o mais característico foi, sem dúvida, a
“cruzeta”. Esta peça que circulou em Angola e no Congo, tinha a forma da
cruz de Santo André, geralmente atribuída por alguns autores à imitação
do X romano inscrito nas primeiras moedas portuguesas que apareceram em
Angola no século XVII.
A origem desta peça monetária à Angola,
depois de averiguações feitas, parece conduzir à conclusão de que ela
provinha da Lunda, território confinante com o Catanga.
No reino
do famoso Garangaja da Lunda, que usava o nome de “ Musiri Maria
Segunda” dedicava-se uma especial atenção ao negócio do cobre. A sua
extracção era feita por processos primitivos baseados na fragmentação.
Derretiam o metal em fornos ou panelas, de onde derivavam tubos ou
calhas de argila para os moldes, que iam desde a forma grosseira da cruz
de Malta até barras longas ou quadrangulares.
Desde muito cedo
os portugueses interessaram-se pelo cobre angolano, contudo, em 1801
ainda se desconhecia em Angola o local da minas de onde os povos
extraiam o cobre.
No entanto, os povos que fundiam o cobre
guardaram este segredo durante anos, chegando ao ponto de deixar de
fundir as cruzetas, dedicando maior interesse ao negócio do marfim.
OS PANOSOs “panos” foram outra mercadoria-moeda de larga circulação entre os povos locais. Sucederam praticamente ao “Zimbo”.
Consistiam
os panos, na acepção da época, em pequenos pedaços de tecido, feitos á
base das fibras da palmeira-bordão, e tinham geralmente a dimensão duma
mabela.
Tinham os “panos” duas origens distintas: o Congo e o
Luango, onde os contratadores iam adquiri-los, trazendo-os para Luanda,
onde circulavam como mercadoria moeda.
Os do Luango chamavam-se
“libongos” e dividiam-se em “bongos”, “sangos” e “infulas”, enquanto os
do Congo, denominados “panos limpos”, se repartiam, consoante o tamanho,
em “cundis” e “meios “cundis”. Corriam ambos em Luanda.
Tanto os
panos do Congo – panos limpos – como os Luango – libongos – só,
passavam a ter curso monetário após haverem sido marcados pelo Senado da
Câmara, com a marca real “R”.
Com os “panos” comprava-se tudo, cobrava-se os impostos e remunerava-se a tropa.
OS ESCRAVOSA sua
utilização com funções monetárias encontrou fundamento no generalizado
comércio de escravos, praticado, desde épocas muito remotas pelas mais
diversas sociedades, que o encaravam como coisa natural e o haviam
enraizado nos costumes da época. Os escravos não foram apenas
instrumento de trabalho, acabaram também por servir de espécie
monetária.
O MARFIMSem nunca
ter atingido a projecção de outros instrumentos de troca, o marfim teve,
no entanto, a sua época como meio de pagamento. O volume e o valor das
transacções desta mercadoria cedo despertaram a atenção dos poderes
públicos coloniais.
Constituindo objecto de contrato privado da
Fazenda Real, proibiu-se a sua exploração por entidades privadas. Terá
sido em consequência deste contrato privado que o marfim começou a
revestir o cunho de meio de pagamento, pois a Fazenda Real aceitava-o em
pagamento de impostos e utilizava-o em transacções como se tratasse de
dinheiro corrente.
Comercializado em abundância no interior,
principalmente nos sertões de Benguela, o marfim ocupou, durante largos
anos, lugar de relevo no quadro das exportações, chegando a constituir,
juntamente com os escravos, a principal fonte de receita do comércio com
o exterior.
VALORES PRÉ-MONETÁRIOS DE PROVENIÊNCIA EXTERIORO
“Cauris”, concha branca de rara beleza, cuja designação tem sido
aplicada com frequência por vários autores a outras conchas
(nomeadamente ao Zimbo) que tiveram igualmente função monetária, é
conhecido desde tempos pré-históricos e constituiu moeda corrente em
vários continentes. Pescava-se em Zinzibar e Moçambique, na Ásia, na
América e na Oceânia.
A sua generalização em Angola e no Congo
teve lugar a partir do século XVI e foi consequência das relações
comerciais dos mercadores portugueses, que, por via marítima, o
importavam do Oriente.
AS CONTASA partir
do Séc. XVI começaram a invadir o sertão contas e missangas das mais
variadas cores e feitios. Muito apreciadas pelos povos de Angola,
acabaram por suplantar as conchas, em especial o “zimbo” e o “cauris”,
tanto na sua função ornamental como na de moeda. As contas azuis,
pequenas, chegaram mesmo a usurpar o nome ao próprio “Zimbo”.
Constituíam
um índice de riqueza das mulheres, que se enfeitavam o mais possível
com elas, dispondo-as pelos cabelos, nos colares nas tangas, de onde as
retiravam quando necessitavam de fazer compras.
As mais divulgadas
foram a “missangas grossa”, a “miúda” – também chamada “olho de rola”-,
a “Maria II” – pequena conta, encarnada na face exterior e branca no
interior, com cerca de três milímetros de diâmetro - , a “ Cassungo” –
conta de bordado -, a “ almandrilha” – apipada ou riscada, de forma
alongada e um centímetro de comprimento - , e outras de menor
importância, como a “missanga leite” e a “missanga azul celeste”.
Ao
contrario das “fazendas”, que eram aceites como moeda em toda a parte,
as “missangas” exerciam essa função com carácter mais regional.
No Bailundo, por exemplo, circulava a “missanga preta”, que, no entanto, já não tinha “curso legal” no vizinho Bié
Na
Lunda era muito apreciada a “missanga branca”, grande, o que não
acontecia no Sul. Como excepção a esta regra, apenas se aponta a “Maria
II”, que circulava praticamente em toda a África Austral.
AS FAZENDASDe entre
as mercadorias inicialmente introduzidas em Angola algumas pela sua
utilidade especial, tiveram intensa procura, por parte das populações
locais. Daí resultou que, com o correr do tempo, se passasse a aferir o
valor de qualquer outra mercadoria em função dessas autênticas
mercadorias – moeda, geralmente denominadas “fazendas”.
As fazendas inicialmente mais correntes foram a “garrafa”, o “pano”, o “cortador”, a “peça” e a “espingarda”.
O SURGIMENTO DA MACUTAA
cunhagem das moedas de cobre constava de peças de 1 macuta, ½ macuta, ¼
de Macuta e 5 réis, atribuindo-se à Macuta o valor de 50 réis.
Quanto
à emissão de moedas de prata, constava de peças de 12, 10,8,6,4 e 2
macutas, sendo estas, de uma forma geral, semelhantes às de cobre.
Neste período viviam-se tempos particularmente difíceis na colónia, motivados pelo monopólio da moeda.
Em 1960 a situação económico/financeiro em Angola era de facto deplorável.
Havia
pouco dinheiro, as receitas que entravam nos cofres públicos eram na
sua maior parte constituídas por letras e títulos de divida.
Com o
objectivo de fazer afluir metal sonante aos cofres, decidiram as
autoridades coloniais suprimir a aceitação de letras, limitando os
pagamentos apenas a dinheiro e aos irrecusáveis títulos de divida.
Mas
esta medida também não surtiu efeito, extinta a moeda de cobre
carimbada, assim como as cédulas de papel, passou toda a moeda
circulante da colónia, a macuta ( moeda de cobre angolense), a
exprimir-se pelo valor Real, moeda do reino português.
Até 1864, a
actividade económica em Angola repousava essencialmente sobre os
mecanismos do tradicional sistema de permutação de géneros.
Nesta
permutação os meios mais correntes de pagamento eram as fazendas, o
Zimbo, as pedras de sal da Kissama (que corriam em toda a parte) e os
libongos.
A quantidade de capital circulante, já por si diminuta,
em virtude da ausência de indústria, perdia-se nas mãos de meia dúzia de
particulares, geralmente contratadores.
Não existiam
instituições de crédito, e em virtude disso eram os particulares que,
regra geral, prestavam serviços próprios dos bancos, cobrando pelos
empréstimos juros ruinosos.
Porém, com a ampliação do comércio e a criação de indústrias em Angola a situação modifica-se.
De
1910 a 1962 lança o Estado colonial português no mercado a emissão
“Vasco da Gama”, o “escudo”, as cédulas do Banco Nacional Ultramarino,
as “ritas” e os “chamiços”, os “angolares” e por último, em 1953, o
“escudo” como unidade monetária.
FINALMENTE O KWANZADepois de algum tempo chegou o tempo novo e com ele o Kwanza verdadeiramente a moeda de Angola.
Considerando que um dos atributos da soberania de um Estado Independente é a faculdade de emitir moeda;
Considerando
que, com a Lei n.º69/76, que criou o Banco Nacional de Angola, a
República Popular de Angola ficou dotada da instituição que beneficia de
exclusivo da emissão monetária; Considerando que já se encontravam
satisfeitas as condições de ordem técnica para o lançamento de uma nova
moeda; Nestes termos ao abrigo da alínea a) do artigo 38.º, da Lei
Constitucional o Conselho da Revolução decretou a Lei da Moeda nacional.
À 11 de Novembro de 1976 , em cumprimento do disposto nos artigos 8.º e
30.º da Lei Constitucional, é criada a unidade monetária nacional
designada o Kwanza.
O Kwanza tinha como fracção o LWEI correspondendo cada Kwanza a cem Lwei.
O
Kwanza era representado materialmente por notas e moedas metálicas. O
Lwei era representado materialmente por moedas metálicas com valor
facial de cinquenta LWEI-0.50. 8 de Janeiro de 1977 foi uma data
fundamental o Kwanza entra em circulação.
ACTUALMENTE "2013"
LANÇAMENTO DA NOVA FAMÍLIA DO KWANZA
O Banco Nacional de Angola, no âmbito da sua função de Banco central
e emissor, após aprovação pela Assembleia Nacional, colocou em
circulação dia 18 de Fevereiro, a nova família do Kwanza, num programa
que iniciou com a disponibilização à sociedade das moedas metálicas de
50 cêntimos, 1Kz, 5Kz e 10 Kz.
De 22 de Março a Junho serão colocadas as notas de valor facial de 50,100, 200, 500, 1000, 2000 e 5000 Kwanzas.
As
novas notas serão introduzidas de modo progressivo e circularão em
simultâneo com as notas actuais. As novas notas e moedas metálicas serão
disponibilizadas aos cidadãos por via dos bancos comerciais, no acto de
levantamento de numerário.
A nova família de
notas e moedas do Kwanza, destaca elementos culturais das mais diversas
regiões que compõem o País, homenageia os Presidentes de Angola
independente, enaltece a paz e tem a riqueza hidrográfica como principal
motivo.
Ilustrações das Quedas do Cuemba
(Bié), estão estampadas na denominação de 50 Kwanzas, as Quedas do Binga
(Kwanza Sul), na nota de 100 Kwanzas, as Quedas de Thiumbue
(Lunda-Sul), na nota de 200 Kwanzas, as Quedas do Andulo (Bié), na nota
de 500 Kwanzas, as Quedas de Kalandula (Malange), na nota de 1000
Kwanzas, as Quedas do Dande (Bengo), na nota de 2000 Kwanzas e a
Barragem de Kapanda (Malange), na nota de 5000 Kwanzas.
A
nova família do Kwanza apresenta melhorias significativas em termos de
segurança, colocando-a dentro dos actuais padrões internacionais e
reforçando o sentido de valorização da moeda nacional.
Entre
os vários elementos de segurança das notas destacam-se os visíveis a
vista desaparelhada, tais como a textura em alto-relevo, a marca de
água, o filete metálico, a faixa de remoção da cor (HMC) e a qualidade
do papel. Os visíveis com equipamentos especiais, são nomeadamente: a
reacção à luz ultravioleta, a reacção ao infravermelho e a ampliação aos
micro textos.
De forma a garantir a
disseminação da informação, o BNA iniciou uma campanha de informação que
envolve publicidade nos meios de comunicação, campanha de marketing
directo e acções dirigidas aos mais diferentes segmentos da sociedade.